"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam"

Guimarães Rosa

19 de jul. de 2011

ESPAÇO DO SABER promove: Debate sobre o filme "cisne negro"

APRESENTAÇÃO
É com grande orgulho que o Jornal Psicologia em Foco apresenta uma inovadora proposta para Maringá. O “Espaço do Saber” é um grupo de debates e difusão do conhecimento em Maringá, que oferece acesso a discussões de temas emergentes e relacionados à cultura e sociedade.
Idealizado pelos membros do “Jornal Psicologia em Foco”, o projeto tem como proposta difundir saberes em um ambiente extra-acadêmico, a partir de palestras, filmes e textos.
As palestras e os cursos apresentam o diferencial de serem ministrados em pequenos grupos, para promover a troca de ideias e maior interação entre os participantes e os mestres.

PROGRAMAÇÃO DE JULHO
EXIBIÇÃO E DEBATE DO FILME “CISNE NEGRO”

Convidadas: Gilcinéia dos Santos, Rute Grossi Milani, Rosana Parré, Sandra Diamante.
Data: 28/07/11 (quinta-feira)
Programação: 19h Exibição do filme
                        20h40 Coffee Break
                        21h Debate
Local: Auditório Aspen Trade Center (5°andar)
Investimento: 35,00 (profissionais) – 25,00 (estudantes) – para inscrições até 24/07
                       40,00 (profissionais) – 30,00 (estudantes) para inscrições a partir de 25/07 

DEPÓSITO IDENTIFICADO
Banco: Itaú    Agência: 6946    Conta: 09585-5/500

Inscrições:
Envie para jornalpsicologiaemfoco@hotmail.com os seguintes dados:
Nome completo:           E-mail:              Telefone para contato:
 Profissional (  ) Estudante (  )    Anexar comprovante ou identificar deposito

Obs: O certificado de 4 horas será entregue aos participantes na data do evento.
Vagas limitadas!

17 de jul. de 2011

PSICÓLOGO HOSPITALAR: UM ESPAÇO CONQUISTADO

Soraya Ruiz de Souza Sanches*
Muito tem se falado em ampliar o atendimento psicológico, diversificando a atuação do psicólogo para várias áreas além da clínica tradicional. Uma das áreas que tem ganhado ênfase é a da Psicologia Hospitalar, como ramo da psicologia da saúde. O psicólogo no contexto hospitalar já é uma realidade e a importância de seu trabalho tem sido reconhecida dia a dia. Com certeza não foi fácil conquistar este espaço, mas com a evolução do conceito de saúde que deixa de compreender o individuo de maneira dicotimizada e fragmentada, buscando uma visão biopsicossocial, na qual o indivíduo passa a ser visto de forma totalizante, visando o seu bem estar biopsicossociocultural e não apenas a ausência da doença. Diante disso a psicologia tem avançado em seu campo de atuação e conquistado um espaço cada vez mais solidificado na atuação do psicólogo. Obstáculos foram encontrados e ainda serão, mas a consolidação desta área de atuação assim como a efetivação da inserção do psicólogo em equipes multidisciplinares  auxiliam nesta visão ampla da prática no âmbito da saúde e devem se transformar em projetos que visem atender as necessidades psicossociais da demanda hospitalar.
Mas o que é a psicologia hospitalar e o que faz o psicólogo neste contexto? Segundo Simonetti (2004) “Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. O autor lembra ainda que a psicologia hospitalar não cuida apenas das doenças com causas psíquicas, mas de qualquer doença, que envolvem sempre de alguma forma, aspectos psicológicos, já que o indivíduo que adoece tem sua subjetividade. Para Campos (2010) “ouvir clientes, familiares e profissionais de saúde na busca da compreensão de suas histórias pessoais, de sua forma de pensar, sentir e agir é a estratégia básica de ação do psicólogo (...) que se coloca como intermediador das relações interpessoais”.
Assim, pode-se pensar que o psicólogo, como conhecedor do ser humano, tem também a função de entender os aspectos que envolvem o adoecimento para que possa auxiliar o individuo a atravessar o processo de hospitalização, facilitando este processo, oferecendo uma escuta para que o paciente possa falar da doença ou de qualquer assunto que o angustie. Isso ajuda o mesmo a entender como está sendo a relação do individuo com a doença, que significados este atribuiu à hospitalização e ao tratamento e o que este momento simboliza em sua vida. Compreendendo que o individuo tem sua subjetividade, suas vivências, sua história de vida e que quando é surpreendido pelo adoecimento, produz aspectos psicológicos que muitas vezes não havia parado para refletir, pensar ou até temer.
É diante de uma situação de crise que a pessoa vivencia intensas transformações em sua vida, que tanto podem ser positivas quanto negativas e nesse aspecto o psicólogo pode ajudar o paciente no processo de ressignificação de experiências e na busca para readquirir  o equilíbrio perdido. O adoecimento deve ser avaliado não isoladamente, mas somado ao estresse da mudança de ambiente (hospitalização), às limitações impostas pela doença, pelo constrangimento dos procedimentos invasivos que o paciente vai se submeter, a perda da sua autonomia e privacidade, entre outros aspectos que podem interferir no estado psicológico do indivíduo. Para lidar com os aspectos que o adoecimento impõe e que geram angústia no paciente (sendo esta uma reação diante de alguma ameaça do ego à sua integridade) é que este lança mão de seus mecanismos de defesa, que no contexto hospitalar pode-se perceber a utilização mais freqüente da negação, da fantasia, da projeção, da racionalização e da sublimação.
Para realizar sua função no contexto hospitalar, o psicólogo deve fazer um trabalho que envolve a tríade paciente, família e equipe de saúde, através de projetos de humanização, que é a grande vertente do trabalho do psicólogo, sendo necessário ampliar o olhar para situações que vão além dos sintomas físicos. Para Andreoli (2008) “O novo psicólogo é aquele profissional que se aventura na tarefa da escuta atenta dos vários atores participantes do cuidado e que pretende dar voz àqueles que, por alguma razão, se encontram silenciados e em conflito. Esta tarefa é particularmente importante quando tratamos de trazer ao ambiente e à convivência hospitalares a dimensão humana”.
Em relação à humanização, tais projetos é que vão instrumentar a equipe e a família a lidar com o paciente, acolhendo adequadamente, fornecendo informações necessárias, demonstrando como intervir com pacientes agressivos, quais as fases que envolvem o adoecer (negação, raiva/revolta, barganha, depressão e aceitação), quais os aspectos emocionais mais frequentes do paciente hospitalizado, identificando as dificuldades dos cuidadores, quais os recursos de enfrentamento que o paciente disponibiliza (resiliência), se tem uma rede de apoio favorável, entre outros.
Para ilustrar a importância da atuação do psicólogo na prática, segue fragmentos de um caso atendido no contexto hospitalar durante o período de estágio. M.F., sexo masculino, 62 anos, atendido na UTI após fazer uma hemicolectomia, demonstrava conhecimento da necessidade da retirada de um pedaço de seu intestino há 15 dias (desde o diagnóstico), relatando não apresentar sintomas anteriormente que ao seu ver justificasse o tumor maligno. Ao ser abordado pela psicóloga e perguntado como se sentia respondeu em termos médicos, falando do procedimento e do problema em seu intestino, que segundo “todos” os médicos e familiares que o visitavam diziam estar bem, em boa recuperação.
A psicóloga então insiste em saber como estava não fisicamente, mas sim emocionalmente, após o diagnóstico relâmpago e a intervenção cirúrgica e nesse momento o paciente se expressa com choro. Depois de alguns minutos pede desculpas e diz: “que bom que alguém quer saber como estou me sentindo, eu já havia me esquecido que era uma pessoa com sentimentos, só pensava no meu intestino todos esses dias e acho que me tornei esse pedaço do meu corpo” (sic). A psicóloga pôde então trabalhar seus aspectos emocionais que estavam contidos até o momento, bem como seus medos diante da “perda” da saúde e possíveis transformações que acarretariam em sua vida, que “todos” evitavam falar, inclusive ele.
* Soraya Ruiz de Souza Sanches é psicóloga, ex-aluna do Cesumar.

Para saber mais:
ANDREOLI, Paola Bruno de Araújo. Psicologia no hospital e os caminhos para a assistência na UTI; In : Psicologia e Humanização: assistência aos pacientes graves / Elias Knobel, Paola B. de Araujo Andreoli, Manes R. Erlichman. – São Paulo: Atheneu, 2008.
CAMPOS, Eugênio Paes. Prefácio, In: psicologia hospitalar e da saúde: consolidando práticas e saberes na Residência/ Maria Stella T. Filgueiras, Fernanda D. Rodrigues, Tânia M.S. Benfica (org). – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença / Alfredo Simonetti. – São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.

10 de jul. de 2011

O IDOSO E O SENTIMENTO DE ASILAMENTO

Eliane Pastor de Lima; Gislaine Redivo; Joseane de Andrade; Renata Rodrigues da Silva*
A velhice é o período que tem início na década dos cinquenta anos, após o indivíduo ter vivenciado realizações pessoais, chamadas de maturidade. Em geral somente uma pessoa com mais de setenta anos possui características que podem defini-la como um velho, tais como: o aspecto apergaminhado da pele, a atrofia muscular difusa, a atrofia geral dos órgãos e sentidos, fragilidade óssea, alterações na memória, entre outras (D’ANDREA, 2006).
Envelhecer pressupõe alterações físicas e psicológicas. Ultimamente com os avanços farmacológicos, a melhor qualidade de vida e a maior preocupação com a prevenção de doenças, o envelhecimento está ocorrendo em idade cada vez mais avançada. Mas com o passar dos anos o desgaste é inevitável, sendo essa uma fase em que o ser humano fica mais suscetível a doenças, isto é, adoecem mais e demoram mais tempo para se recuperar.
Embora a velhice venha sendo objeto de estudos e preocupações de vários campos de estudos, este período do desenvolvimento da personalidade está longe de ser compreendido totalmente. Atualmente existe uma tendência em considerar que uma pessoa com sessenta anos já é um incomodo para os mais jovens e se a posição deste idoso for de submissão ou dependência, ela é tratada como se não servisse para mais nada.
O processo de asilamento leva a um distanciamento progressivo entre o idoso e seus familiares, chega às vezes ao abandono. Ao ver-se sozinho no asilo, o idoso queixa-se de solidão, onde além de se recusarem a conversar com seus colegas de asilo, solicitam exclusivamente a atenção dos profissionais ou funcionários da instituição. Contudo, novos vínculos afetivos se formam com o decorrer do tempo de asilamento, passando haver entre eles um sentimento de amizade, solidariedade mútua, compartilhar dores, ansiedades, preocupações e perdas, enfim, sentimentos que agora fazem parte da sua “vida asilar”.
Inicialmente a família visita-o em media três vezes por semana, esse número de visitas vai diminuindo com o tempo, sendo facilmente encontrados casos em que o visitam até duas vezes ao ano. Zimerman (2005) posiciona-se contra as instituições asilares. Segunda a autora servem como “depósitos de idosos”, mas as considera como um mal necessário, usado como resposta às necessidades do mundo atual, além do que se não existissem, idosos sem família não teriam aonde ir.
A autora também considera que a massificação é um tipo de violência contra o velho, pois é o resultado de idéias pré-concebidas e estigmatizante acerca dele, que não leva em consideração a individualidade de cada um, caracterizando todos os velhos como chatos, por exemplo. O que leva a outro tipo de violência contra os idosos, que é não escutá-los, decidindo tudo por eles, desde o tratamento para a saúde até mesmo a roupa que ele vai usar e a aonde vai, sem ao menos perguntar o que ele acha. Essa é mais uma situação que passa despercebida, mas que mexe profundamente com a dignidade do velho.
            Para se inferir aspectos sobre a vida do idoso antes e após o processo de asilamento, realizaram-se entrevistas com três idosos com idades entre 60 e 70 anos, moradores de uma instituição asilar na cidade de Maringá- PR.
Através das entrevistas pode-se perceber que o idoso asilado sofre e desenvolve sentimentos, sejam em relação à vida anterior ao asilamento ou não. Estes idosos queixam-se dos colegas, da falta de atividades relacionadas ao lazer como, bailes e passeios, por exemplo, reclamam da falta de visita dos filhos e dos entes queridos, deixando assim, transparecer uma aparente tristeza e vontade de sair da instituição. O preconceito se caracteriza pela ausência de reflexão crítica acerca de um determinado objeto e suas origens, é decorrente do processo de socialização, não sendo algo inato ao indivíduo, se manifestando nele de forma singular e individual. (CROCHÍK, 2004)
            Dessa forma, o idoso, principalmente aquele asilado, é vítima de preconceito, pois eles próprios se queixam da falta de visitas dos familiares ou de entes queridos. Sentem-se excluídos da sociedade assim como sujeitos estigmatizados, pois tal como estigma é definido na relação social e representa a situação da qual o individuo está inabilitado para sua plena aceitação no meio social sendo usado para evidenciar uma característica que possua se encaixando nele algumas categorias de pessoas tal como, por exemplo, os idosos.
            Acreditam que já não fazem mais parte da sociedade estando marcados pela sua condição física, social e talvez mental, ou seja, se limitando a grupos pessoas com as mesmas características. Acreditam que na medida em que foram envelhecendo foram sendo esquecidos e sendo vistos pela sociedade de forma peculiar e criam mecanismos de defesa apresentam em determinados momentos fantasias, negação da realidade, rejeição numa tentativa de fuga da realidade de isolamento a qual se encontram.

*Eliane Pastor de Lima; Gislaine Redivo; Joseane de Andrade e Renata Rodrigues da Silva são acadêmicas do 5º ano de Psicologia no Cesumar.

Para saber mais:
CROCHÍK, L. Preconceito, indivíduo e sociedade. São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.
D’andrea, F. F. Desenvolvimento da personalidade. 17ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação de identidade deteriorada. São Paulo: LTC, 1988.
NÉRI, A.L. Psicologia do envelhecimento. Campinas: Papirus, 1995
SPINK (org). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995.
ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto alegre: Artmed, 2005.

3 de jul. de 2011

ESCUTAR O QUE SE OUVE

Diogo Luiz Santana Galline*
À primeira vista, o título acima conduz o despercebido leitor a cogitar um erro gravíssimo de redundância por parte do autor. “Como posso escutar aquilo que não ouço?”, podem questionar. Outros chegarão à filosófica conclusão de que “ouço, logo escuto”. Por fim, alguns dirão que ambos os termos são e sempre serão sinônimos, desviando a conversa para o resultado futebolístico do final de semana e encerrando, de forma drástica, a possível discussão. Embora sejam vistas por muitos como semelhantes, há significantes diferenças entre as duas palavras. Segundo o Dicionário Michaelis, ouvir remete a “dar ouvido às palavras de; perceber pelo sentido do ouvido”, ao passo que escutar refere-se a “prestar atenção para ouvir; dar atenção à; sentir; perceber”. Em suma: enquanto ouvir está ligado às funções auditivas, escutar envolve-se primordialmente com a atenção (e conseqüente compreensão) àquele que nos dirige a palavra.
Um breve caso auxiliará na elucidação dos conceitos. Certa vez, uma mulher retornou aflita de seu trabalho, necessitando dialogar urgentemente com o marido. Ao adentrar em casa, notou o esposo sentado no sofá, lendo seu respectivo jornal. Não demorou muito para iniciar seu desabafo, de forma atropelada e desorganizada. Qual foi a sua surpresa ao ser interpelada pelo marido da forma mais superficial possível, com fáticos “aham”, “que mais” e “certo”, mas sem desgrudar os olhos das páginas esportivas um minuto sequer. Tornando-se ainda mais desesperada, não se agüentou e arrancou o jornal das mãos do homem que, assustado, perguntou: “O que está acontecendo?”. “Acontece que eu estou há quase meia hora lhe falando das idéias malucas de nossa filha, que deseja viajar com o namorado para uma praia deserta, e você continua com essa expressão de que nada está acontecendo. Será que você está me escutando?”. Certamente a resposta para esse caso é “não”, pois ele realmente não escutou o que estava sendo dito. É possível que seu canal auditivo tenha captado as ondas sonoras provindas da voz da esposa, transmitindo o estímulo para o próprio organismo. Todavia, dificilmente tal estímulo transformou-se em alguma mensagem efetiva, afinal, nenhuma atenção foi desprendida pelo sujeito para torná-la consciente.
Pode parecer um exemplo distante, contudo, está mais presente no dia a dia das pessoas do que se imagina. Basta refrescar da memória a última vez que se encontrou com aquele amigo indesejado e pouco quisto, vulgo chato: é bem provável que, em meio a tanto desinteresse em manter a conversa, o interlocutor tenha se utilizado apenas dos ouvidos (quiçá respostas monossilábicas), sem envolver a escuta propriamente dita ou até mesmo, o mínimo de atenção. Outro exemplo dá-se costumeiramente nas salas de aula, em disciplinas que não interessem tanto a determinados alunos. Embora estejam olhando e ouvindo a figura do professor, seus pensamentos encontram-se há milhas de distância.
O movimento de escutar não é tão simples quanto se demonstra ser. Na atual sociedade, valoriza-se a máxima produção em detrimento ao menor tempo possível. Desta forma, pouco tempo é dedicado ao exercício de escuta, uma vez que, na lógica pós-moderna, significa “perda de tempo”. Ao invés de desprender de alguns minutos para dedicá-lo ao entendimento do próximo, prefere-se criar relações objetivas, mas superficiais, nas quais o contato está baseado mais no que cada um tem a dizer, ou seja, um “monologo dirigido”, ao invés de uma formação de diálogo.
Para o profissional da psicologia, a capacidade da escuta faz-se estritamente necessária para o andamento de suas atividades. No que condiz à prática clínica, espera-se que terapeuta e cliente estabeleçam um vínculo de confiança, sabendo-se que só será criado caso exista uma ligação verdadeira entre ambos. Diversos fatores colaboram para essa formação, dentre eles a escuta atenta do psicólogo para o “corajoso” que ali se encontra, expondo fragilidades muitas vezes inimagináveis de serem relatadas para outros ao seu redor. O cliente procura alguém que disponha de dedicação suficiente para compreender suas angústias, que o escute empaticamente e que, diferentemente de muitos, possa enxergar suas dificuldades com respeito e aceitação. Será somente dessa maneira que se conseguirá chegar àquilo que Martin Buber denominou de relação dialógica, isto é, um relacionamento verdadeiro formado por duas pessoas (eu-tu). Ambas encontram-se presentes em sua totalidade, dotadas de comunicação genuína e sem reservas. Desta forma, abrem-se imensas possibilidades de interação humana, promovendo o processo terapêutico autêntico.
             Diante do que foi apresentado, conclui-se a grande importância que o processo da escuta assume na vida dos seres humanos. É preciso ir muito além do simples ato de ouvir. Faz-se necessário, antes de tudo, esforçar-se para estar atento à transmissão do mundo interno daquele que fala, captando assim o valor essencial de sua mensagem. A situação torna-se primordial no que condiz ao psicólogo. É deveras importante realizar um exercício constante de escuta, pois, sem ele, o estabelecimento do contato interpessoal torna-se impossível. O cliente certamente não se sentirá à vontade para trabalhar seus conteúdos, muito menos encontrará espaço propício para o surgimento da awareness¹. Parafraseando o brilhante Rubem Alves: “existem muitos cursos de oratória, mas nunca alguém se preocupou em criar um curso de escutatória”. Está disposto a ser pioneiro nessa arte? “Sintaxe” à vontade!  
1.      Segundo Yontef (1998), awareness é definida como “uma forma de experienciar. É o processo de estar em contato vigilante com o evento de maior importância no campo indivíduo/ambiente, com total suporte sensório-motor, emocional, cognitivo e energético.
* Diogo Luiz Santana Galline é psicólogo e ex-aluno do Cesumar.

Para saber mais:
ALVES, R. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 2010.
BUBER, M. Eu eTu. Tradução. e introdução de Newton Aquiles von Zuben. 5 ed. São Paulo: Centauro, 2001.
JACOB, L. Diálogo na teoria e na prática da Gestalt. The Gestalt journal. Vol XII, N )1: 1979.
HYNER, R. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. 2. ed. São Paulo: Summus, 1995.